Um conto de halloween em São Paulo

Josué nunca achou muita graça no halloween. Uma festa americana, com tradições que ele desconhecia e que não tinha o menor sentido, já que no calor do Brasil sair vestido de preto e pedir doces pelas casas era ridículo. Se ninguém abriria a porta para um jovem vestido de caveira, imagine conseguir bater em portas de apartamentos?

Era meia noite. Dia 31 de outubro, Josué estava em casa assistindo filmes de terror para entrar no seu clima pessoal de halloween. As 00:06 um vulto passa pela porta da sala. Acreditando ser apenas imaginação, Josué continua a assistir seu filme.

Dez minutos depois, um cheiro de fumo toma conta da sua sala. Estaria vindo da janela? Afinal, morando no décimo quinto andar, o cheiro pode vir da sacada de alguém. Josué coloca a cabeça para fora da janela. Só encontra silêncio e cheiro de dama da noite.

Ao voltar para o sofá, ele toma um susto. Uma figura toda peluda, com o couro cabeludo raspado, brilhando sangue estava sentada em seu lugar. Ela tinha olhos avermelhados, fumava um cachimbo e não tinha a perna direita.

- Calma, meu filho - Diz a criatura.

- Quem é você?

- Você não deve saber meu nome, mas deve me conhecer por Saci.

- Ha ha ha! Que bobagem! Saci não existe, muito menos isso que estou vendo. Devo estar sonhando.

- Será? Perguntou a criatura.

Rapidamente, o ser peludo pulou do sofá e saiu em direção a cozinha. Pegou o pequeno cachorro poodle da família e arrancou sua cabeça com a boca. Com o corpo do cachorro ensangüentados nas mãos, o Saci escreveu na parede: A lenda do Saci ainda vive!

O rapaz entra em desespero e com muita raiva, avança na criatura. Achando ser algum maníaco ou psicopata, ele dá uma chave de braços no pescoço do ser. Dá para ouvir os ossos do Saci se partindo, enquanto seu corpo amolece.

Ainda perturbado com a cena, Josué tenta procurar ajuda. Ele corre pela casa, mas está sozinho. O telefone está mudo e seu celular sem sinal. Algo estranho está acontecendo.

Seu braço começa a formigar. Uma ferida produzida por uma mordida da criatura se espalha pelo seu corpo. O rapaz é tomado por muito calor. Em um ato de desespero, ele rasga suas próprias roupas, ficando apenas de bermuda pela casa.

Sua face fica desfigurada. Ele está se transformando no monstro que ele havia acabado de matar. Não queria se tornar essa desgraça e atormentar outras pessoas.

Desesperado, ele tenta se matar. Pega um saco plástico vermelho e coloca em sua cabeça, procurando se asfixiar. A demora em perder o fôlego o leva até o fogão. Josué, ou o que era ele antes, acende o gás para tentar explodir seu corpo.

Ele acende o fogão. Uma labareda acerta seu corpo, agora todo peludo e começa a pegar fogo. Em um ato de desespero final, com o corpo em chamas, Josué tenta pular da janela.

Ao se jogar, ele fica com metade do corpo para fora. Uma das suas pernas fica presa por algo dentro do apartamento. Era o Saci, que ainda vivo o segurava por uma perna.

Com a casa em chamas, o plástico vermelho derretendo em sua cabeça e com o corpo quase carbonizado, Josué ainda escuta as últimas palavras do Saci:

- A lenda do Saci ainda vive!

O Saci tira o cachimbo se sua boca e crava no queixo de Josué. Em seguida começa a roer sua perna direita, que é decepada de seu corpo, liberando o jovem para uma queda de quinze andares.

O corpo de Josué cai já sem vida ao cair no gramado do condomínio, os bombeiros já estavam chegando para apagar o incêndio do apartamento. Lá dentro, encontraram apenas um cachorro carbonizado, mas não decapitado.

Com seu corpo totalmente carbonizado, um cachimbo na boca, um gorro plástico vermelho na cabeça e sem a perna direita, Josué ficou conhecido como o Saci da Mooca. Depois desse halloween, as pessoas do bairro nunca mais ficaram em suas casas na virada do dia 31 de outubro.

por Apocalipse2000