O profeta DANIEL, explica a Nabucodonosor, rei da Babilônia, o seu sonho, ou seja, o que deve ocorrer no fim dos tempos. E eis a visão da grande estátua, cuja cabeça é de ouro fino, o peito e os braços de prata, o ventre de cobre, as pernas de ferro, os pés, em parte de ferro, em parte barro. Então, uma pedra feriu a estátua nos pés, que eram de ferro e de barro e os fez em pedaços. Então foi juntamente feito em pedaços o ferro, o barro, o cobre, a prata e o ouro e se tornaram como a pragana das eiras de estio, e o vento levou-os, de sorte que não se achou lugar para eles.
A pedra que feriu a imagem tornou-se uma grande montanha e encheu a terra toda. (Daniel, II, 26 a 35).
O próprio Daniel explica o significado do sonho. O rei de Babilônia, Nabucodonosor, é a cabeça de ouro da estátua. Surgirá depois um reino mais baixo, e menor valor, que é o peito de prata, depois um terceiro, que é o ventre de cobre, a seguir um quarto, duro como ferro, que é representado pelas pernas de ferro. O fato de que a seguir os pés sejam em parte O ferro e em parte de barro, significa que aquele reino será dividido, e numa parte será duro, noutra será fraco. As partes não poderão unir-se entre si, tal como o ferro não pode misturar-se com o barro. Nos dias desse reino, Deus fará surgir outro reino, que jamais será destruído, em toda a eternidade. Ele despedaçará e consumirá todos aqueles remos, mas ele mesmo durará eternamente. (Dan. II, 36 a 45).
Muitos estão de acordo em ver, na cabeça de ouro, o reino da Babilônia; no peito o da Pérsia, como o reino de prata; no ventre, o da Grécia, como o reino de cobre; nas pernas, Roma, como o de ferro. Há uma descida, para o baixo, pelas várias partes do corpo, como descia no valor do material que o compõe. Depois, esse reino será dividido ou seja, o império romano entre Roma e Bizâncio, império que, por mais tentativas que se fizessem (Carlos Magno, Napoleão) jamais se reuniu. Os vários fragmentos não puderam, de fato, tornar a aglomerar-se, assim como o ferro não se pode misturar com o barro. E assim a Europa até hoje, em parte dura, em parte fraca. Nos dias desse reino, quando as coisas se acharem nessas condições, o profeta Daniel continua: Deus fará surgir um reino que jamais, na eternidade, será destruído. Ele despedaçará e consumirá todos aqueles reinos, mas ele mesmo durará eternamente. Não parece esta a mesma visão do Apocalipse, mas vista de mais longe? E qual poderá ser esse novo reino, que consumirá todos os outros e durará eternamente, senão o Reino de Deus, anunciado pelo Evangelho? Só ele, sendo de origem divina e de natureza espiritual, poderá permanecer sem ser destruído e durar eternamente. E essa intervenção direta de Deus, não significará aquela manifestação do pensamento e da vontade da História, de que falamos, como onda que arrasta homens e acontecimentos, para a consecução dos fins preestabelecidos no determinismo da Lei, que agora empunha as rédeas da humanidade?
E então, diz o profeta Daniel, uma pedra feriu a estátua nos pés, que eram de ferro e barro, e os despedaçou. Então, foram despedaçados juntamente, o ferro, o barro, o cobre, a prata e o ouro, e se tornaram como a pragana das eiras de estio, e o vento as carregou e não se achou mais nenhum lugar para eles. A pedra, que feriu a estátua, torna-se um grande monte e ocupa toda a Terra (Dan, II, 34-35). Esse despedaçar de todos os elementos componentes dos vários reinos, não exprime em termos mais genéricos os flagelos destruidores do mundo atual, expressos pelo Apocalipse? Que pode ser a estátua com pés de ferro e barro, senão a humanidade, que pretende amparar-se na matéria, ao invés de fazê-lo no espírito? E que será a pedra que fere esta humanidade, senão a mão de Deus, que fere o homem pelo seu cego materialismo? E tudo desaparecerá como a pragana ao vento. Esta é a queda da Babilônia do Apocalipse, da Grande Babilônia, mãe das fornicações e das abominações da terra. E a pedra que ferirá a estátua se tornará uma grande montanha e encherá toda a terra. É a vitória de Cristo, o triunfo final de Deus, sobre as forças do mal. Mais pormenorizado, porque mais próximo, o Apocalipse repete o mesmo motivo.