Augusto acorda em sua cama.Olha a hora no relógio. 3:00
horas da madrugada.
Está sem sono,cansado e com um pouco de dor de cabeça.Vai até a cozinha
e bebe um copo
d`água. Lava o rosto no banheiro e volta para cama e espera o sono voltar.
Começa a pensar no pesadelo que acabou de ter.Via a
cidade infestada de enor-
mes insetos. Ele sente um calafrio pelo corpo só de pensar nisso. Ele
tem fobia a insetos, descartando somente formigas pequenas. O sono bate
e ele cede com prazer.
Agora ele se encontra vagando pelas ruas no momento
do pôr-do-sol. Esta in-
do se encontrar com Vanessa, sua namorada, na Praça Batista Campos. Ele
a vê de costas e
olha as horas. Está atrasado 1 hora. ?Ela deve estar furiosa? pensa ele.
Mesmo assim ele vai
até lá pedir desculpas.
- Oi ? diz ele, mas ela continua de costas com os braços cruzados. ? tá
bom...
sei que me atrasei de novo.
Ela continua na mesma posição.
- Ora vamos... - diz ele ? fala comigo!
Ela se vira para trás. No lugar de seu rosto está a
cara de uma aranha. Augusto
grita e se afasta. Ele acorda novamente em seu quarto e ainda desperto sente
minúsculas pa-
tinhas correndo pelo seu corpo.Vê seu corpo cheio de insetos. Grita
novamente e pula da
cama derrubando alguns.Eles são milhares,de todos os tipos e muitos o machucam
com seus ferrões.
Augusto continua derrubando-os com suas mãos. Mas eles
parecem que nunca
acabam, como se nascessem outros instantaneamente. Alguns entram em sua
boca e ele os
cospe fora. Seu coração bate aceleradamente e ele acha que se continuar
assim pode ter um
enfarto.
Ele grita por socorro mas ninguém aparece. Corre para
a cozinha, pega o inseti-
cida e joga por todo o corpo. O inseticida acaba e nenhum inseto morre.
Então corre para o banheiro e liga o chuveiro. Em
seguida fica debaixo dele
tentando lavar o corpo. Quanto mais insetos caem, mais aparecem.
Ele não está mais agüentando essa agonia. Esses monstrinhos
estão em todo o
seu corpo, desde os cabelos e a boca, até os pés e entrando em seu ânus.
Ele enoja o próprio
corpo e se pudesse mudaria de pele,pois para ele nem todos os tipos de banho
tiraria tal ?su-
jeira?.
Já deveria estar rouco de tanto gritar?,pensa ele enquanto
baratas tentam entrar
em sua boca.Talvez sua garganta seja mais resistente do que aparenta. Mas
isso no momen-
to não é o mais importante. Esse é sem dúvida o pior momento de sua vida
e ele reza para
que aquilo não seja real. Talvez sua fobia tenha chegado a um estado muito
avançado e es-
teja lhe causando alucinações. Ou melhor, talvez aquilo seja apenas um
pesadelo. Mas não
pode ser real.
Bate três vezes com sua cabeça na parede na esperança
de acordar.Nada aconte-
ce. Corre então para a cozinha onde pega uma faca e faz um corte na palma
de sua mão es-
querda. A dor é tão grande que por um momento ele esquece o seu sofrimento.
O sangue escorre pelo seu braço e suja alguns insetos. Mas novamente ele
continua em seu insuportá- vel pesadelo.Percebe então
que não está sonhando.E está começando a perder a hipótese de ser apenas
uma alucinação. Decide então ligar para Vanessa.
O telefone não funciona.?Essa merda deve tá quebrada!?,pensa
ele.?Talvez se- ja até melhor ela não me ver assim!?.
Acho que é o fim!?,pensa ele sentando no sofá.Já não
sente tantas dores e nem
se preocupa com o que for acontecer a ele, pois perdeu a vontade de viver.
Só lhe resta uma
coisa a fazer: pegar um baseado e refletir sobre sua vida.
Ele sempre achou sua vida uma droga, talvez seja melhor
morrer. Não tem na-
da nesse mundo que o interesse, exceto Vanessa. Mas ele já não a ama tanto
e é melhor ela
procurar um cara mais interessante, alguém com um bom futuro e não um drogado
com o a-
luguel atrasado e com grandes inimigos.
Vai até a gaveta do seu armário e pega seu revólver.Abre
bem sua boca e enfia o cano da arma. Sua mão treme um pouco e ele soa frio.
Os insetos continuam a violentar
seu corpo.Ele pensa uma última vez em Vanessa, dá sua última tragada no
baseado e aperta o gatilho.
Algumas horas depois ele acorda.Os insetos ainda atacam
seu corpo e ele con-
tinua em seu apartamento. O chão está sujo de sangue e sua cabeça também.
Mas o buraco
da bala desapareceu. ?Merda!Eu devia tá morto!?, pensa ele.
Mas que droga tá acontecendo??, pensa ele novamente.
Corre para a sala.Ten-
ta abrir a janela para pular,mas ela não abre. Apesar de não sentir muito
a dor causada pelos
insetos, a agonia é cada mais insuportável. Ele precisa se matar e se livrar
dessa agonia de
uma vez por todas.
Dá muitos socos fortes mas a janela não sede. Pega
então uma cadeira e com
toda sua força bate com ela na janela. Finalmente a janela sede e ele pode
ver a cidade. Mas
ela parece diferente. Não tem carros circulando nas ruas e parece vazia.O
céu está roxo e as trevas tomam conta de prédios e casas. Ele se sente
só no mundo.
Começa a escutar grandes pisadas.E vê sombras se movendo
no chão.Então in- setos gigantes surgem. Soltam gritos agudos e ensurdecedores.
Augusto não consegue acre- ditar no que vê e se afasta da janela.
Ele precisa se matar logo. Tenta se suicidar de várias formas e não consegue,
pois sempre acorda em seu pesadelo real com os insetos em seu corpo.
Se ajoelha chorando e começa gritar.?O que está acontecendo!?.
Ao dizer is- so, começa a aparecer imagens e sua mente. Ele se vê jogado
na cama com a boca cheia de vômito e Vanessa chorando com as mãos no rosto
ao lado da cama. Em seguida se vê den- tro de um caixão e um padre com
a bíblia aberta em suas mãos. Parentes, amigos estão ao seu redor
chorando e alguns também rezando. Seus irmãos consolando sua mãe
e Vanessa sendo consolada por seu pai e seu irmão.Em seguida se vê nu dentro
de um enor-
me útero. Sente a dor de seus pecados e uma luz mórbida o puxar para fora
do útero.
Todas essas imagens lhe atingem como flechas venenosas
e ele finalmente sa- be toda a verdade.