Depois da publicação de um texto no Blog sobre o Papa João Paulo II e o Angangabaú,
recebemos alguns pedidos para falar um pouco mais sobre a entidade do folclore
brasileiro, o Anhangá.
Anhangá é um espírito que vive na floresta e que pode tomar a forma do que
quiser. Além de boi, peixe, pessoa ou macaco, o mais comum é sua aparição na forma de
um veado branco com olhos de fogo.
Os registros de sua presença aparecem em cartas de José de
Anchieta, Manuel da Nóbrega e Fernão Cardim no século XVI. Seus relatos tratam
Anhangá como um espírito mau, temido pelos povos indígenas. Outros relatos,
como o do alemão Hans Staden, comentam do medo dos indígenas ao sair à noite:
"Os indígenas não gostam de sair das cabanas sem luz, tanto medo têm do Diabo,
a quem chamam Ingange, o qual freqüentemente lhes aparece."
Para os povos indígenas, Anhangá é considerado o deus da caça e do campo. Ele
protege os animais contra caçadores. Algumas lendas contam que caçadores faziam
tratos com Anhangá, pedindo ajuda na caça em troca de tabaco.
Já para os jesuítas que chegaram aqui no Brasil, Anhangá era considerada uma
figura maligna, comparado demônio da teologia cristã.
Anhangá é muito citado na obra As Aventuras de Tibicurea, de Érico Veríssimo:
"Aos cinco anos fiz minha primeira caçada de tucanos. Mas não me meti
fundo no mato, porque tinha medo de encontrar Anhangá, Curupira e os outros
espíritos maus."
"O mato todo riu com ele. Riu de mim. Depois o diabo virou três
cambalhotas no ar e começou a dançar com toda a velocidade em meu redor.
Senti que meus olhos escureciam. Eu mal e mal ouvia a voz de Anhangá,
berrando:
- Ninguém pode comigo! Ninguém me vence, nem Tupã!"
Foi dessa figura mitológica que surgiu o nome "rio Anhangabaú" para um ribeirão
que corta o estado de São Paulo.
Inicialmente conhecido como Rio das Almas, o rio Anhangabaú era muito temido
pelos indígenas da região. Os índios acreditavam que suas águas traziam doenças
ao corpo e ao espírito. Essa crença leva a suspeita de que suas águas não eram
potáveis.
Teodoro Sampaio, historiador brasileiro, escreveu em uma de suas publicações
que o rio era considerado pelos índios como "debedouro das assombrações".
Dizem que você pode ver um Anhangá se andar pela Floresta Amazônica em noite de lua cheia, se você passar por algum lugar mal-assombrado.
A lenda do Anhangá permanece viva até hoje e deve ser mantida para que as futuras gerações conheçam um pouco mais sobre as histórias do nosso país pré-colonização.